“Quase me Lembro”, o primeiro filme de Dimitri Mihajlovic e Miguel Lima, está a ser produzido no Porto

No BAP – Animation Studio, em Cedofeita, está a nascer o primeiro filme de Dimitri Mihajlovic e Miguel Lima. A animação “Quase me Lembro” é um dos projetos apoiados pela Bolsa Neves da Filmaporto — film commission.

“Quase me Lembro” reflete sobre o processo da deterioração da memória causado pelo passar do tempo. Em conversas em torno da temática, os dois realizadores evocaram as suas experiências pessoais, que acabaram por ditar o rumo do filme. Miguel Lima recorda um desses episódios: “Estava a fazer um desenho da casa da minha avó, que faleceu há 11 anos. Essa casa era-me muito querida e conhecia-a bem, por isso, tinha a certeza de que as paredes do corredor eram amarelas. No entanto, quando vi fotografias, percebi que, na verdade, eram azuis. Esse acontecimento foi um pouco chocante para mim”. A curta-metragem desenvolveu-se a partir do sentimento causado pela perda das recordações, resultando num filme íntimo alimentado pelas memórias dos dois autores.

O gosto de Dimitri Mihajlovic e Miguel Lima pelo cinema experimental originou uma narrativa abstrata: o filme é uma viagem sensorial e introspetiva de uma personagem que atravessa as suas memórias, numa tentativa de reencontrar-se com algo que já aconteceu. No entanto, quanto mais tenta aproximar-se, mais se afasta desse passado.

De acordo com os realizadores, esta ideia de perda de memória está também explanada na técnica utilizada na animação. “Há um processo de acumulação de informação que quisemos ter no filme. Os desenhos são, inicialmente, pintados digitalmente e impressos. Depois, apagamos quase toda a impressão, voltamos a desenhar por cima e, por último, fotografamos – e a fotografia também está ligada à captação do momento. Todo este processo implica desgastar e estragar para voltar a construir por cima”.

Apesar de terem colaborado em vários filmes – e até nos mesmos projetos, mas em fases diferentes – é a primeira vez que Dimitri Mihajlovic e Miguel Lima trabalham juntos e assumem o papel de realizadores. Segundo ambos, esta parceria foi originada pelo espírito colaborativo do estúdio BAP, que nasceu na produtora Bando à Parte e acabou por autonomizar-se. À dupla juntaram-se Carolina Bonzinho, Leander Meresaar e Teresa Baroet que, a seis mãos, dedicam-se à animação e pintura da curta-metragem. Rozenn Busson e Marta Andrade também trabalharam, numa fase inicial, na animação deste filme de oito minutos.

“Quase me Lembro” é um dos projetos apoiados, em 2021, pela Bolsa Neves da Filmaporto, destinada a artistas, cineastas e produtores residentes no concelho do Porto. Apesar de o filme contar com o financiamento do ICA – Instituto do Cinema e do Audiovisual, para Dimitri Mihajlovic e Miguel Lima, o apoio atribuído pela Filmaporto permitiu manterem a liberdade criativa. “[Esta bolsa] deu-nos espaço para pensar mais no filme e arriscar sem sacrificar algumas ideias só porque não teríamos tempo”, explicam. “Deu-nos também a possibilidade de errar e de fazer estes testes de pintura. Todo o processo experimental de apagar e desenhar por cima das impressões precisou de algum tempo. Tenho dúvidas que conseguíssemos fazê-lo sem esta bolsa”.

A produção da curta-metragem estender-se-á até ao final do ano. A estreia está prevista para 2023.